quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Agricultura amazônica pode chegar a 8.000 anos

Data obtida em sítio de Rondônia é uma das mais antigas da América

Indício vem da presença de terra preta, solo que surge em uso intenso da vegetação; obra de usina possibilita achado


Silva Júnior/Folhapress

Arqueólogo Eduardo Bespalez mostra pedaço de cerâmica decorada que acaba de ser desenterrado na ilha do Japó, no rio Madeira, perto de Porto Velho; sítio da ilha tem terra preta

REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO
O sítio arqueológico conhecido como Garbin não existe mais. Tragado pelas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio (RO), em seu lugar ficará o vertedouro da barragem -uma espécie de válvula de escape da usina.
Antes que o sítio sumisse, porém, arqueólogos desenterraram ali sedimentos e artefatos que podem indicar que a agricultura na Amazônia foi "inventada" há uns 7.700 anos -uma das datas mais antigas do continente, e a mais velha do Brasil.
A pista de que a técnica foi dominada em época tão remota é indireta, mas forte. Trata-se da chamada terra preta (veja infográfico à direita), solo rico em matéria orgânica que, até onde se sabe, só surge com o acúmulo constante de dejetos de origem animal e vegetal, característico do uso intensivo desses recursos.
"Se não era agricultura propriamente dita, eles, no mínimo, estavam fazendo um manejo intenso dos recursos vegetais", diz o arqueólogo Renato Kipnis, sócio da empresa Scientia Consultoria Científica e um dos coordenadores do trabalho.

AO RESGATE
Kipnis e seus colegas andam zanzando para cima e para baixo da BR-364, perto de Porto Velho, desde 2008. Por lei, as compensações ligadas a uma usina do porte da de Santo Antônio, no rio Madeira, exigem o resgate de possíveis bens de interesse arqueológico que apareçam na construção. A empresa do arqueólogo venceu a licitação para fazer o serviço.
"Imagine só quando percebemos que os principais sítios estavam bem no canteiro da obra", brinca Ricardo Márcio Martins Alves, gerente de sustentabilidade da Santo Antônio Energia. "Mas logo conseguimos nos organizar para que o trabalho dos arqueólogos fosse feito."
A equipe da Scientia descobriu que, em paralelo com a rodovia moderna, corria uma hidrovia pré-histórica. A calha do Madeira na região está coalhada de sítios, que abrangem ambas as margens do rio e também as ilhas e pedrais (rochas de corredeiras) no meio do leito. Há gravuras rupestres, cerâmica decorada, artefatos de pedra e terra preta para dar e vender.
"O incomum é que no sítio Garbin havia terra preta associada a artefatos de pedra, e não a cerâmica", diz a arqueóloga gaúcha Silvana Zuse, que integra a equipe.
Vasculhar esses instrumentos em busca de restos vegetais microscópicos pode indicar o que, afinal, os moradores do Garbin cultivavam. A aposta mais óbvia: mandioca, a lavoura amazônica por excelência.
"É chato saber que vários sítios vão sumir. Mas, se não fosse pela obra, dificilmente teríamos tanta verba para trabalhar aqui", diz a geóloga Michelle Mayumi Tizuka.

O jornalista REINALDO JOSÉ LOPES viajou a convite da Santo Antônio Energia
Ideia de "mata virgem" passa por uma revisão
DO ENVIADO A PORTO VELHO

Se novos dados confirmarem a antiguidade da agricultura nativa na calha do Madeira, deve ganhar ainda mais força uma hipótese defendida por arqueólogos que trabalham na Amazônia.
Trata-se da ideia de que o termo "floresta virgem" pode ser profundamente enganoso. A mata seria, na verdade, uma "floresta cultural", manejada pelos indígenas ao longo de milhares de anos para que as espécies de seu interesse prosperassem.
Quem se embrenha na mata da ilha Dionísio, um dos locais estudados pela equipe da Scientia, não precisa de muito para crer na ideia.
Após caminhar por alguns minutos por uma floresta estonteamente diversa, onde nenhuma árvore é igual à vizinha, você parece cruzar os limites de um círculo invisível dentro do qual, de repente, uma única espécie reina.
É um urucurizal -como o nome diz, uma concentração da palmeira conhecida como urucuri. O fruto é comestível.
"Uns gostam, outros nem tanto. O pessoal come quando cai da árvore", conta Vanderlei Alves Santos, assistente de campo das escavações que, empolgado com o trabalho, enfrenta o vestibular para o curso de arqueologia da Universidade Federal de Rondônia no mês que vem.
"Há um debate grande se coisas como o urucurizal são naturais ou surgiram pelo manejo da floresta", diz Kipnis. "O risco é você criar uma espécie de viés de confirmação. Se procurar sinais de uma floresta antrópica [ou seja, gerada pelo homem] em locais onde sabidamente houve ocupação no passado, vai acabar achando, claro."
Uma ideia para contornar isso seria calcular a "assinatura" visual de certos tipos de árvore -as "culturais" e as de uma mata mais virgem, por exemplo- quando vista do espaço, via satélite. "Aí você poderia detectar as áreas e ir lá escavar para ver se há sítios mesmo", explica.
Em outra ilha, enquanto escava, o arqueólogo Eduardo Bespalez aponta uma enorme sumaúma, espécie de mata intacta. "Essa aí viu o pessoal dançando no terreiro", brinca. (RJL)

Plantio teria facilitado a expansão tupi
Área onde há indícios de agricultura também é considerada berço de povos que colonizariam litoral do país

Cultivo de mandioca tem forte elo com as tribos do grupo, mas evidências mais claras são difíceis de obter

DO ENVIADO A PORTO VELHO

"Tupi or not tupi" (tupi ou não tupi), brincava o poeta brasileiro Oswald de Andrade, parodiando o "to be or not to be" de Shakespeare. No caso das descobertas em Rondônia, a piada do autor modernista está estranhamente próxima da realidade.
Isso porque, ao que tudo indica, o Estado amazônico é considerado por muitos estudiosos como o provável berço da expansão tupi.
É ali que existe a maior diversidade de idiomas do tronco linguístico tupi -e os estudos mostram que essa diversidade só aparece com o tempo. Portanto, é um sinal claro de que os tupis estariam por lá há milênios.
Os povos que falavam idiomas tupis, porém, já tinham se espalhado por uma enorme área, alcançando todo o litoral do Brasil, na época do primeiro contato com os europeus. Seria possível identificá-los como os primeiros plantadores de mandioca do Brasil? Será que isso teria conferido a eles uma vantagem competitiva frente a seus rivais sem lavoura?
Ideias desse tipo ganharam força entre arqueólogos nas últimas décadas. Grosso modo, ocorre que, comparados a caçadores-coletores, povos de fazendeiros têm mais muque demográfico.
Conseguem produzir mais comida para alimentar mais gente no mesmo espaço -algo entre dez e cem vezes mais pessoas por hectare. Por isso, ganhariam a briga por expansão territorial, desalojando ou derrotando em combate seus rivais não-agrícolas.
"Não há dúvida de que há um elo muito forte entre os tupis e o cultivo da mandioca, até do ponto de vista dos mitos sobre a planta que são importantes para eles", diz o arqueólogo Eduardo Bespalez, que tenta relacionar o registro dos sítios com os povos indígenas atuais.
"Encontramos por aqui a cerâmica da chamada tradição policrômica da Amazônia. É comum ela ser associada aos grupos tupis, embora povos sem relação com eles também a tenham produzido", adverte o pesquisador.
Renato Kipnis vê com interesse um possível elo entre avanço demográfico e agricultura, mas diz que os modelos a esse respeito podem acabar sendo simplistas.
"Uma coisa que notamos, com base no próprio sítio Garbin e em outros locais, foram datações em torno de 5.000 anos, as mais antigas depois da de 7.700 anos", conta ele. "O curioso é que essa idade é uma das estimadas para a divergência inicial das línguas do tronco tupi. É uma possibilidade a explorar", afirma o arqueólogo.

PRESERVAÇÃO
Segundo a Santo Antônio Energia, a Universidade Federal de Rondônia terá apoio para montar um acervo preservando os achados dos sítios arqueológicos que foram -ou serão- destruídos pela usina. Outras áreas de escavação, que não serão diretamente afetadas, podem virar áreas de estudo permanente.
(REINALDO JOSÉ LOPES)

FRASE

"As obras [da Usina Hidrelétrica Santo Antônio] impressionam pelas alterações no ambiente. Mas elas podem ser vistas como a consequência da intensificação do uso dos recursos por parte dos primeiros agricultores lá atrás"
RENATO KIPNIS
arqueólogo e sócio da empresa Scientia Consultoria Científica

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sistema agrícola do Rio Negro é reconhecido como patrimônio cultural pelo Iphan



O ritual yaokwa dos índios enawenê nawê, de Mato Grosso, que também se tornou patrimônio cultural

Em novembro o Conselho Consultivo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconheceu, por unanimidade, o sistema agrícola do Rio Negro como patrimônio cultural brasileiro. O bem será registrado no Livro dos Modos de Fazer e o instituto deve apoiar a elaboração e implementação de um Plano de Salvaguarda.

A proposta de registro do sistema agrícola como patrimônio foi inicialmente feita pela Associação das Comunidades do Médio Rio Negro (Acimrn), com sede em Santa Isabel do Rio Negro e posteriormente a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e a Associação Indígena de Barcelos (Asiba) incorporaram-se ao processo.
O sistema agrícola do Rio Negro é entendido como um conjunto de saberes e modos de transmissão de conhecimentos que se relacionam entre si, entre eles estão: a diversidade das plantas cultivadas, as técnicas de manejo da roça e dos quintais (os espaços de cultivo), o sistema alimentar (as receitas e processos de elaboração dos produtos da roça), os utensílios de processamento e armazenamento, ou seja, a cultura material e, por fim, a conformação de redes sociais de troca de plantas e conhecimentos associados. O cultivo da mandioca brava (Manihot esculenta), por meio da técnica de coivara e da rede de troca de saberes e plantas, é a base desse sistema, compartilhado por mais de 20 povos indígenas, os quais vivem ao longo do Rio Negro, em um território que abrange os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, noroeste amazônico, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela.
Neste sistema os utensílios de processamento da massa de mandioca e os cultivares são considerados seres com atributos semelhantes aos dos humanos com sentimentos e sociabilidade. Não se trata de um repertório de artefatos passivo, o forno de torrar a farinha, por exemplo, “sabe” se ela vai ficar boa ou não. As mandiocas se comunicam entre si e com as mulheres, que são as donas das roças. Estas características orientam a gestão do uso e produção destes bens compondo um aspecto do valor patrimonial do sistema.
Para saber mais sobre o Sistema Agrícola do Rio Negro e seu processo de registro como patrimônio clique aqui e aqui


Unanimidade entre os conselheiros do Iphan
Dos 24 conselheiros do Conselho Consultivo do instituto, 14 deles estiveram presentes em 5 de novembro e todos votaram pelo reconhecimento do sistema agrícola como Patrimônio Cultural Brasileiro. O relator do processo foi o antropólogo Roque de Barros Laraia, que elogiou o dossiê de suporte do registro. Laraia ressaltou que o texto do dossiê equaciona bem a complexidade do bem como um sistema, o que se apresenta como novidade nos processos de registro de bens imaterias do Iphan. O antropólogo salientou o trabalho primoroso da botânica Laure Emperaire, do Institut pour la Recherche et Development (IRD) e pesquisadora associada do ISA, em evidenciar a diversidade das plantas cultivadas, em especial da mandioca.


Conselheiros votam no Palácio Gustavo Capanema, sede do Iphan no Rio de Janeiro



Jurema Souza Machado, arquiteta da Unesco e uma das conselheiras destacou que um dos riscos que ameaçam a atualização do sistema agrícola do Rio Negro relaciona-se ao fato de a juventude não se identificar com a atividade de fazer roça, atribuindo a ela uma imagem de atraso e de trabalho árduo. O relator, Roque Laraia, argumentou que o dossiê explicita esta preocupação e indica algumas possibilidades e iniciativas para aproximar a juventude.
Segurança alimentar e estratégias de salvaguarda
Durante o processo de formulação do dossiê e registro do sistema agrícola como patrimônio o ISA, o projeto de pesquisa Pacta (Populações, Agrobiodiversidade e Conhecimentos Tradicionais Associados/Unicamp-CNPq e IRD) e o próprio Iphan apoiaram a Acimrn e a Foirn na realização de encontros sobre patrimonialização, divulgação do processo de registro e levantamentos participativos acerca de iniciativas desejadas para a salvaguarda do bem. Com estas consultas, tornou-se patente a preocupação dos povos indígenas com a desvalorização de seus modos de vida, especialmente, em relação a transmissão de conhecimentos xamânicos, benzimentos e rituais, bem como, sobre as técnicas de tecer os utensílios e de processar os alimentos. A segurança alimentar, garantida pela base da diversidade de receitas e plantas cultivadas, também foi destacada como uma das preocupações nestes fóruns de discussão.
Desta forma, entre as ações de salvaguarda previstas no dossiê estão: a) mobilização de jovens indígenas para pesquisas e registros de audiovisual sobre o modo de fazer roça de antigamente, o atual e do futuro, sobre benzimentos e mitos de origem das plantas; b) valorização dos dabucuris (rituais de trocas de bens) e c) fomento a realização de feiras e outras modalidades de escoamento e valorização do produto regional.
Vale lembrar ainda que entre os dias 4 e 5 de novembro, o Conselho reconheceu outros cinco bens como Patrimônio Cultural Brasileiro: 1) Encontro das Águas do Rio Negro e Solimões, no Amazonas; 2) o ritual Yaokwa, dos índios Enawenê Nawê, que vivem na zona de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, em Mato Grosso; 3) o conjunto urbanístico e paisagístico da cidade de São Félix, na Bahia; 4) o Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, no Rio de Janeiro; 5) o conjunto histórico e paisagístico de Santa Tereza, no Rio Grande do Sul.

http://www.socioambiental.org/noticias/nsa/detalhe?id=3227

O QUE VOCÊ COME PODE SALVAR O PLANETA!


 (clique na imagem para ampliar)

ALUNOS DA ESCOLA JOHN KENNEDY APRESENTAM EM MOSTRA CULTURAL OS DANOS CAUSADOS PELO CONSUMO DE CARNE BOVINA

No último dia 30 de novembro, os alunos da Escola John Kennedy apresentaram os estudos realizados durante o anos letivo sobre a Biodiversidade, em virtude deste ano ter sido dedicado a esta temática.

Dentre vários assuntos concernentes à Biodiversidade, foi discutido a questão alimentar, que tem impacto direto na saúde humana e no meio ambiente de forma geral. Alimentos orgânicos e alimentação alternativa foram o carro-chefe das turmas de 4ª séries.

Duas polêmicas fizeram parte da culminância destas turmas: transgênicos e consumo de carne bovina.

Um quadro bem esclarecer foi apresentado em forma de cartaz acerca do desmatamento provocado pelo crescimento desenfreado da pecuária no país, além do aumento do aquecimento do planeta, que recebe forte contribuição dos gases emitidos pelas fezes e pelo "arroto" dos bois e vacas. Não é piada. É isso mesmo que você leu.

Leia este artigo escrito pelo Biólogo Alexandre Berndt (USP) sobre esta questão e fique bem informado: (ESPERAMOS QUE, AO FINAL DESTA LEITURA, VOCÊ SINTA UM ENORME PESO NA CONSCIÊNCIA QUANDO ESTIVER DIANTE DAQUELE CHURRASQUINHO, E ENCONTRE ALTERNATIVAS ECOLOGICAMENTE CORRETAS PARA A DIVERSÃO DO FIM DE SEMANA!!)


Os gases emitidos pelos bovinos tem efeito devastador na atmosfera, por conterem metano dentre outros.

O grande problema enfrentado pela pecuária, além do desmatamento de novas áreas para implantação de sistemas agropecuários, é o metano liberado pelos bovinos na atmosfera. Para estudar essa questão, o Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa desenvolve pesquisas cientificas mostrando os interesses da ciência brasileira em oferecer informações científicas para contrapor afirmações que são divulgadas na mídia sobre questões ambientais e oferece ainda tecnologia de suporte na área de pecuária de corte e leite.

Frente a falha de comunicação existente entre os diversos setores da cadeia produtiva da carne, nos deparamos com publicidades em internet, televisão e jornal que dissipam informações dos problemas enfrentados pela cadeia em diferentes países, sendo que nem sempre estas informações são relevantes e tecnicamente corretas. Algumas publicações falam sobre a quantidade de metano emitida pelos bovinos, supondo que a cadeia da carne é um perigo para o ambiente, protestando contra o consumo do alimento e utilizando os meios de comunicação como propaganda para inexpressivos grupos.

Se observarmos a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) de origem antrópica, a emissão de dióxido de carbono (CO2) causada pela poluição dos automóveis, de indústrias, desmatamento, queimadas e outros é quatro vezes maior que a de metano (CH4), produzida pelos bovinos.

Realmente os bovinos são eficientes na produção de metano, porém essa produção evoluiu com a espécie e é necessária para evitar a intoxicação do animal. Na agricultura são formados diversos gases colaboradores do efeito estufa como o óxido nitroso (N2O), dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). A formação desses gases é ocasionada pela fermentação entérica (no rúmen), dejetos, respiração do solo, adubação com fertilizantes, desmatamento, queimadas e etc.



No mundo, as emissões de metano pela fermentação entérica de ruminantes contribuem com 22% (70 a 100 milhões t/ano) de todo o gás produzido pela humanidade através de outras atividades como o cultivo de arroz inundado, esgoto doméstico, aterros, queima de biomassa e mais. Já no Brasil, com o rebanho de 185 milhões de cabeças, há uma emissão de 9,4 milhões de ton CH4/ano, ou seja 2,5% de todo gás produzido mundialmente, porém o equivalente a 69% das emissões brasileiras de CH4.





Considerando a distribuição do rebanho pelo Brasil e que um bovino emite 56kg CH4/ano (valor default do IPCC), estima-se que todas as regiões do país contribuem com a emissão de metano dos bovinos, sendo o Centro-Oeste a região com maior representatividade em função do maior número de cabeças do rebanho. Esta estimativa é bastante grosseira pois cada região apresenta um perfil diferente de sistema de produção. O Estado de São Paulo, por exemplo, deixou de ser uma região de cria e recria, passando a concentrar esforços na etapa de terminação. Isto ocorreu em função do elevado custo da terra, da concorrência com culturas de cana-de-açúcar e eucalipto, da presença de subprodutos como fonte de alimento para confinamentos, ao grande parque frigorífico instalado e à proximidade com portos exportadores.



Muitos consumidores europeus, por exemplo, dão preferência por consumir os alimentos produzidos próximo de sua região, pela preservação de laços culturais e pela preocupação com as questões ambientais. Estes consumidores, entretanto, não levam em conta que para produção desse alimento (Ex: suínos), foram utilizadas matérias-primas (Ex:milho) de outros países, ou seja, os produtores das matérias-primas ficam com o ônus do equivalente carbono de suas emissões de carbono da lavoura sem transmitir este gasto para outras atividades. Se considerarmos o exemplo do milho produzido em Sorriso, Mato Grosso, que viaja 2.100 km de caminhão até o Porto de Paranaguá, Paraná; embarca num navio cargueiro que navega 10.000 km até o porto de Hamburgo na Alemanha; é transferido para um trem que viaja mais 200 km até Hannover, tradicional região alemã produtora de suínos; podemos imaginar qual a "pegada de carbono" (carbon footprint) deste alimento. Para tornar ainda mais crítica a situação, todo o esterco produzido pelas granjas de Hannover, não pode mais ser descartado em solo alemão, devido ao alto grau de eutrofização, devendo ser transportado de caminhão até a Polônia para descarte.



O fato é que o bovino é um ótimo aproveitador de celulose e hemicelulose e o metano é produzido naturalmente em seu organismo, através de microorganismos metanogênicos, que atuam na remoção do H+ produzido do rúmen do animal evitando intoxicação. Pensando nisso, diversas pesquisas são desenvolvidas para estudar estratégias de manejo nutricional e uso de aditivos visando a mitigação dessa emissão de metano.

Ferramentas estão sendo testadas para se manipular o rúmen e criar técnicas de manejo redutoras de emissão do gás. Exemplos delas são o uso de Ionóforos, Glicerol, Tanino, Saponinas, Óleos, Gorduras, Vacinas, Anticorpos Policlonais, técnicas de manejo de pastagens, melhoramento genético e sistemas eficientes de produção. Lembrando-se que essas ferramentas devem estar ligadas à sustentabilidade econômica do produtor. No futuro os produtores que se comprometerem com a sustentabilidade ambiental e utilizarem estratégias de mitigação poderão ser recompensados com créditos de carbono.

As pesquisas mostram que, intensificando-se os sistemas de produção pode-se reduzir a emissão entérica de CH4 por unidade de produto, no caso por kg de carne, mesmo que a emissão de N2O possa ser aumentada pelo uso de fertilizantes nitrogenados, seja para cultivo de grãos seja para adubação de pastagens. Esta redução da emissão por unidade de produto está principalmente relacionada ao melhor aproveitamento do alimento e à redução da idade de abate. A estimativa geral de balanço de gases é bastante complexa e demanda muita pesquisa, inclusive sobre sistemas mais eficientes de produção como silvipastoris e agrosilvipastoris em que se buscam um melhor aproveitamento dos gases emitidos pelas atividades.

A metodologia utilizada pelo Instituto de Zootecnia para determinar a emissão de metano entérico é a do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6) que consiste basicamente em uma cápsula dosadora do gás, colocação no animal de um conjunto coletor, como canga e cabresto, que absorve os gases expirados que posteriormente são analisados por cromatografia gasosa em laboratório especializado da EMBRAPA Meio Ambiente, em Jaguariúna.

Quanto a mitigação da quantidade de emissão de CH4 observamos que o valor default do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) é de 56kg CH4/ano. Essa unidade é usada como referência, porém para se ter uma melhor percepção do volume liberado por produto busca-se unidades mais reais como kg CH4 / kg de carne produzida ou kg CH4 / kg de equivalente carcaça produzida .

Diversos projetos de pesquisa têm apresentado resultados inferiores ao default do IPCC, usando a média emitida em kg CH4/ano, com relação a diferentes tipos de pastagem e suplementações nas dietas, entre eles:

Brachiaria brizantha(57kg/ano) > Feno de Leucena(51kg/ano) = Silagem de sorgo(51kg/ano) > Feno de Brachiaria brizantha(49kg/ano) > Uréia+Concentrado(22kg/ano).

Com isso, percebemos que quanto melhor a qualidade da dieta, menor é a emissão de CH4 em relação ao default do IPCC. No caso do uso de leguminosas, como a Leucena, além da fixação biológica de nitrogênio, elas têm o poder de afetar a microbiota ruminal e inibir as bactérias que produzem metano, aprimorando assim os sistemas de pastagem com esse tipo de planta e reduzindo as emissões. No último caso, usando uréia+concentrado, não foram considerados dados da emissão de CH4 proveniente da produção de grãos, mas fica claro que essa diminuição de aproximadamente 50% na emissão de metano é devida à menor ingestão de fibras pelo animal. É importante lembrar que para escolha do manejo adotado, vários fatores da propriedade devem ser levados em consideração, desde raça até sistema de produção.

Interessado em buscar novas tecnologias para melhorar a qualidade de produção, o Instituto de Zootecnia está com outras pesquisas em andamento:

Unidade de Recria e Engorda a Pasto: Série de ensaios para identificar estratégias de manejo de B. brizantha capazes de aumentar a eficiência do processo produtivo e uma consequente redução da emissão de metano por produto. (Figura 1)
Unidade de Fisiologia Digestiva de Ruminantes: Série de ensaios para identificar aditivos capazes de aumentar a eficiência do processo de digestão ruminal e uma consequente redução da emissão de metano em até 30%.(Figura 2)

Figura 1



Figura 2


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Alexandre Berndt é Biólogo formado pela USP/SP e Agrônomo pela ESALQ/USP. Possui mestrado em Ciência Animal e Pastagens e Doutorado em Ecologia de Agroecossistemas. Sua linha de pesquisa principal é emissão de metano pela pecuária nacional. Atualmente é pesquisador científico do Instituto de Zootecnia / APTA em Nova Odessa, SP.
Disponível em:
http://www.beefpoint.com.br/producao-de-metano-em-bovinos-e-sua-contribuicao-para-o-aquecimento-global-video-slides-e-artigo_noticia_57061_15_326_.aspx




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